A relação farmacêutico – paciente, em Portugal

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As obrigações do farmacêutico português, tal como visto anteriormente no artigo Ser Farmacêutica em Portugal, são grandes. Mas também são compreensíveis perante o grande direito que temos: o da actuação directa na saúde do paciente. E essa mais-valia que temos, e da qual a população beneficia, tem a sua face mais visível em farmácia comunitária. Farmácia comunitária é o nome que damos à área da profissão correspondente ao trabalho desenvolvido em farmácias que estão nas ruas do País. Ou seja, e tal como o nome indica, são os estabelecimentos de saúde prestadores de cuidados compostos por farmacêuticos e abertos à comunidade.

É função de um farmacêutico, em farmácia comunitária:

  • Ceder medicamentos (mencionados numa prescrição, indicados por si ou solicitados pelo paciente)
  • Fazer indicação farmacêutica (seleccionar o produto de saúde ou a medida não farmacológica mais adequada a uma situação que, pela avaliação, é não grave, auto-limitada, de curta duração, ou que não apresente relação com outros problemas de saúde do doente)
  • Manipular medicamentos
  • Educar para a saúde (instruir a comunidade sobre conhecimentos e atitudes para prevenir ou lidar com as doenças)
  • Seguimento farmacoterapêutico (acompanhamento e responsabilização sobre as necessidades dos pacientes com a sua medicação, geralmente, crônica)
  • Promover o uso racional do medicamento (passar a mensagem de que o medicamento deve ser tomado na altura e dose certas, com intervalos e duração adequados, apenas no período necessário)
  • Actuar a nível da Farmacovigilância (identificar, avaliar e prevenir riscos associados ao uso dos medicamentos)
  • Determinar parâmetros bioquímicos e fisiológicos, por indicação médica ou auto-controlo do paciente (glicemia, colesterol (total, LDL, HDL), triglicerídios, pressão arterial, ácido úrico, peso corporal/altura/IMC, testes de gravidez, pesagem bebes, INR, hemoglobina, creatinina)
  • Administração de vacinas e medicamentos injectáveis.

Por aqui se vê, que a nossa intervenção é ampla e pertinente.

 

O mercado farmacêutico na crise de Portugal

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Em 2011, a crise chega a Portugal e surgem medidas de poupança: foram criadas novas taxas moderadoras e aumentadas as que já existiam, no Serviço Nacional de Saúde. (As taxas são o valor pago por cada cidadão, ao Estado, por consulta ou exame de saúde, no serviço publico.) Por outro lado, diminuíram as contratações de médicos e enfermeiros, o que aumentou as filas de espera para se ser atendido. Consequência? Os portugueses passaram a “consultar-se” cada vez mais com o farmacêutico. O motivo? Ninguém paga para entrar numa farmácia, nem pelo conselho/aconselhamento farmacêutico prestado.

Trabalhei, durante a crise, numa farmácia. Apesar da zona não ser frequentada por pessoas com grandes dificuldades econômicas, nunca me senti tão valorizada como nessa época. O número de pacientes que entrava para pedir ajuda (porque não pode faltar ao trabalho para ir a uma consulta ou porque não tem dinheiro para a pagar) era muito alto. (É claro que não substituíamos os médicos, nem passámos a fazê-lo, e sempre que a resolução do problema não passava por nós, não interviemos.)

Contudo, houve uma “surpresa” para a população, que ao inicio foi difícil de gerir: se as pessoas não tinham dinheiro para a saúde, as farmácias também nem sempre o tinham para adquirir medicamentos; por vezes, mesmo que tivessem, começaram a escassear nas prateleiras, por politicas adoptadas pela indústria farmaceutica, distribuidores e armazéns.

Para juntar a este aumento da procura do farmacêutico, em 2015 saiu um estudo que mostrou que a intervenção dos farmacêuticos, a nível dos cuidados e serviços que prestamos à comunidade, gera uma poupança de 3.880.060.000 reais ao Estado. Incrível, não?

Com isto se conclui que, neste momento, e apesar de termos dificuldades e limitações que não tínhamos há alguns anos atrás, o reconhecimento e valorização do farmacêutico comunitário existe, e foi consolidado quando os tempos mais difíceis chegaram ao nosso país.

Nota: em Portugal, não usamos o termos paciente, e sim utente. Contudo, foi utilizado por forma a facilitar a leitura.

Leia também:

Ser Farmacêutica em Portugal

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